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Eficiência energética: o “combustível esquecido” para uma transição sustentável

Inês Reis Gaspar, Future Energy Leaders Portugal/Associação Portuguesa da Energia/Aurora Energy Research03/05/2024

Numa realidade de consumo crescente de energia, em parelelo com os desafios da mudança climática, é imperativo adotar medidas que reduzam o desperdício e promovam o uso inteligente de recursos disponíveis, o que somente através de um compromisso com a eficiência energética poderemos atingir, independentemente do setor.

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A urgência de priorizar a eficiência energética tornou-se evidente durante o conflito da Guerra da Ucrânia, com direito a uma ênfase especial no plano RepowerEU1. No plano anunciado em maio de 2022, o tema da utilização racional de energia ganhou destaque, ao ser colocado como o primeiro de cinco pilares para assegurar a estabilidade e sustentabilidade energética da Europa.

Os cinco pilares focavam-se tanto em alterações comportamentais de curto prazo como em medidas estruturais de médio e longo prazo. Entre as recomendações, uma das alterações anunciadas foi a revisão do objetivo de eficiência energética para 13% até 2030 relativamente ao cenário de referência de 2020, um aumento em relação aos modestos 9% estabelecidos anteriormente no Fit for 552. Além disso, o RepowerEU delineou também uma série de recomendações adicionais para os Estados Membros. Entre estes, foi anunciada a Diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios, com o intuito de desenhar e implementar soluções para garantir economias adicionais nos setores residencial e comercial, assim como recomendações específicas, como introduzir standards de performance mínimos em renovações que incluem sistemas de aquecimento e arrefecimento, e como reforçar os requisitos nacionais de standards para emissões zero em novos edíficios.

Num contexto de emergência do setor, estes esforços direcionados enfatizam a relevância da eficiência para a descarbonização e segurança energética. Enquanto avançamos rumo a uma sociedade cada vez mais eletrificada, onde o crescimento do consumo de energia é também interpretado como um sinal de progresso económico, torna-se imperativo optimizar e reduzir o consumo de energia - uma meta que pode ser alcançada, principalmente, através do aumento da eficiência.

Numa sociedade com um apetite energético crescente em todos os setores, comece-se pelo básico: edíficios. O setor residencial emerge como campo prioritário para melhorias em eficiência energética, já que representa cerca de 40%3 do consumo final de energia total. Em primeira instância, adoptar medidas de eficiência parece a decisão acertada: além de contas de energia reduzidas para o consumidor, há também melhorias no conforto por via do isolamnto térmico e uma contribuição direta para a independência energética do país e para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

No entanto, é alarmante observar que não parece ser essa a direção que seguimos. De acordo com o GlobalABC’s tracker4, o ritmo global de melhorias anuais em eficência energéticas de edíficios não só estagnou, como até mesmo diminuiu para metade entre 2016 e 2019. Esse declínio é preocupante, exigindo uma resposta imediata e abrangente.

O custo de renovar propriedades muitas vezes supera o seu valor de mercado, o que pode desencorajar investimentos em tecnologias mais eficientes. Além disso, a adoção de tecnologias mais eficientes também enfrenta obstáculos: tome-se como exemplo as bombas de calor, cujas vendas declinaram em 2023 na Europa comparativamente a 20225, enfatizando a necessidade de abordagens que garantam ao consumidor a acessibilidade de soluções eficazes de eficiência energética a curto e longo prazo.

Felizmente, os policymakers estão conscientes destes desafios. Em resposta aos mesmos, diversas políticas e iniciativas estão a ser implementadas para impulsionar a eficiência energética por toda a Europa:

1. Na Alemanha6, em 2023, um quadro jurídico para a eficiência energética foi aprovado pela primeira vez pelo parlamento; a Lei de Eficiência Energética visa uma redução no consumo primário de energia de cerca de 39.3% em 2030, relativamente a 2008, através da melhoria da eficiência energética dos edifícios, da indústria, dos transportes e da agricultura.

2. Na Itália7, o governo subsidia o custo total para renovações “verdes”, assegurando também generosas deduções de impostos de até 100 mil euros por residência.

3. Em Portugal8, é possível concorrer a subsidíos que incluem desde a substituição de janelas até a instalação de painéis solares, com o objetivo de reduzir cerca de 30% do consumo de energia primária nos edifícios intervencionados;

4. No Reino Unido9, algumas das renovações ou reparos energéticos com o intuito de aumentar a eficiência energética são isentos de IVA; para além disso, haverá requisitos mais rigorosos a nível do desempenho energético para novas residências a partir de 202510.

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Esta é a situação no velho continente, em que, além de assegurar um aumento da eficiência de edifícios existentes, há também um foco em integrar padrões de eficiência energética desde a fase de projeto. No resto do mundo, este segundo ponto é ainda mais relevante. Com o crescimento populacional e do consumo energético nas regiões de Ásia e África, em que muitos dos edíficios que existirão daqui a 50 anos ainda nem sequer foram construídos, é vital garantir, desde já, uma infraestrutura urbana resiliente e sustentável.

A eficiência energética é um alicerce crucial na jornada rumo a uma transição sustentável e não se resume aos setores mais tradicionais. No outro extremo do espetro, os setores inovadores, um outro desafio monumental surge: data centres. Em 2022, 1-2%11 da energia consumida no mundo corresponde a data centres, traduzindo-se a 240-500 TWh: 500 TWh seria equivalente ao consumo da Alemanha, o nono maior consumidor de eletricidade12.

Embora o uso da eletricidade pela internet seja significativo, o mais impressionante é que tem sido eficiente: embora o número de utilizadores de internet tenha aumentado 78% entre 2015 e 2022, e o workload dos data centres tenha aumentando 340%, a energia consumida pelos mesmos nesse período aumentou apenas entre 20-70%13. O uso inteligente e o aumento de eficiência são explicáveis através das melhorias computacionais e eficiências de escala. No entanto, à medida que entramos na era da inteligência artificial, cujo uso energético é mais intenso e insaciável do que nunca, a eficiência energética torna-se o ponto focal vital.

Numa realidade de consumo crescente de energia, em paralelo com os desafios da mudança climática, é imperativo adotar medidas que reduzam o desperdício e promovam o uso inteligente de recursos disponíveis, o que somente através de um compromisso com a eficiência energética poderemos atingir, independentemente do setor. Afinal, no nosso futuro sustentável o “combustível esquecido”, como referido pela Agência Internacional da Energia14, poderá nem sequer ter a forma de um combustível!

1 RePowerEU plan, 2022.

2 Fit for 55 strategy, 2021.

3 UN Global Status Report for Buildings and Construction, 2021. Residencial, não residencial e construção.

4 Global ABCs tracker, 2022.

5 The Guardian, “Environmentally friendly heat pumps hit slump in Europe”, fevereiro de 2024.

6 “Energieeffizienzgesetz”, 2023.

7 “Superbonus 110%”, 2022-2023.

8 “Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis”, 2023.

9 “Great British Insulation Scheme”, 2024.

10 “New Energy Performance Regulations for 2025”.

11 The Economist “Data centres improved greatly in energy efficiency as they grew massively larger”, janeiro de 2024.

12 Dados de 2021, de acordo com a EIA (US Energy Information Administration). Acessível em https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_electricity_consumption

13 The Economist “Data centres improved greatly in energy efficiency as they grew massively larger”, janeiro de 2024.

14 International Energy Agency (IEA).

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